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Bateria e Percussão no tratamento da Síndrome de Down (Trissomia 21)

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A Síndrome de Down foi descrita há mais de 100 anos pelo Dr. John Langdon Haydon Down, hoje esta síndrome atinge uma a cada 800 pessoas que nascem. Ela se dá devido a uma alteração no cromossomo 21, a concepção humana é feita pela junção de 23 cromossomos (carga genética) por parte masculina e 23 cromossomos por parte feminina. O portador da Síndrome de Down nasce com um cromossomo a mais, por isso do nome Trissomia, onde deveria existir um par existem 3 cromossomos no cromossomo 21, além disso, a idade materna é outro fator determinante no que diz respeito às causas da síndrome. Quando a mulher passa dos 35 anos para ser mãe, as chances aumentam consideravelmente ano após ano.

A Síndrome de Down, diferentemente do que vemos pela televisão, possui vários graus de acometimento, sendo do mais leve, onde o portador da síndrome consegue trabalhar, se comunicar, ler, escrever e exercer suas vontades, já nos níveis mais severos suas faculdades mentais e mesmo físicas podem sofrer grandes limitações, como por exemplo não desenvolver a fala, e em alguns casos acarretar comorbidades (outros problemas relacionados à síndrome), como por exemplo o Autismo.

Comorbidades

A maioria das doenças de acometimento genético que alteram o número de cromossomos leva a problemas neurológicos, cardíacos e, em alguns casos, cognitivos, também chamadas de comorbidades. Na síndrome de Down, por exemplo, as comorbidades cardíacas mais comuns são o AVC (átrio venoso comum), que é quando não temos uma separação correta dos átrios e dos ventrículos do coração, e a CI (comunicação interatrial).

O hipotireoidismo, que posteriormente desencadeia o sobrepeso e imunodeficiências, também faz com que o portador de Down tenha mais facilmente infecções pulmonares e urinárias, por exemplo.

Do ponto de vista neurológico, são crianças hipotônicas, ou seja, andam com o corpo mais “mole” e com movimentos mais lentos. Muitas vezes apresentam um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (ADNPM) e de coordenação, além da deficiência intelectual (D.I). Como já citado, o autismo e a Síndrome de Asperger também são comorbidades bastante encontradas na pessoa com Down e, em alguns casos, isso acarreta juntamente Transtorno Opositivo Desafiador nos casos mais severos.

Intervenção através da Bateria na Síndrome de Down

Olhando do aspecto comportamental e cognitivo, é comum vermos a tendência visual-sinestésica nos casos mais leves do portador da Síndrome de Down. Isso significa que eles vão se associar melhor com imagens e, vendo cada peça da bateria e posteriormente tocando e sentindo a textura do instrumento, isso cria uma ligação cognitiva e emocional para com o aluno.

Neste caso, trabalhamos com uma apostila onde as notas são feitas pelas imagens das peças da bateria, o que cria uma melhor associação com o som. Criando essa ligação cognitiva inicial, começamos a orientar o aluno muitas vezes com referências lúdicas aos movimentos, para que ele tome ciência da própria força, desenvolvendo o tônus muscular e principalmente a coordenação.

Em alguns casos onde a Síndrome é mais severa, também precisamos adequar a força do próprio aluno ao som que ele cria, pois muitas vezes ele traz uma hipersensibilidade auditiva ou mesmo a falta dela. Essa adaptação auditiva é um pouco mais demorada e leva de 2 a 6 semanas, e está diretamente ligada à percepção corporal do aluno e ao equilíbrio psicomotor. Outro ponto a ser avaliado e desenvolvido é que, devido ao sobrepeso que alguns alunos possam ter, é necessário a correção da pisada do aluno (nesse caso, é necessário o acompanhamento de um ortopedista ou mesmo fisioterapeuta), identificando se ele tem pisada:

  • Pronada – Onde o pé faz um movimento acentuado para dentro.
  • Supinada – Onde o pé faz um movimento acentuado para fora.
  • Neutra – Que representa uma pisada sem grandes movimentos para dentro ou para fora.

Em paralelo a toda essa leitura e anamnese do aluno, também vamos desenvolvendo o aspecto psicossocial dele.

Eu, enquanto professor, tenho que deixá-lo à vontade para que ele me permita entrar no mundo dele. O aluno precisa sempre ter a confiança e desenvolver essa afetividade, e para isso usamos de bom humor e de temas voltados ao que ele já faz no dia a dia. Portanto, os pais ou responsáveis passarem informações como gosto musical, tipos de brincadeiras e jogos que ele goste, e programas de TV que ele assista é de grande valia.

Tudo isso é usado na aula nos momentos onde a fadiga auditiva, muscular ou mental tomem conta do aluno. Precisamos criar esse vínculo para que ele não tenha medo nem receio da aula, do instrumento ou de si mesmo ao ouvir o som que ele mesmo cria. Todo o processo é desenvolvido com base na criação da confiança e na segurança dele para comigo, pois afinal de contas, estamos lidando com vidas humanas. Sem isso, nada se faz presente e nada faz sentido.

Durante o curso, os pais ou responsáveis sempre podem acompanhar a aula. Caso não queiram, por acharem que ele se solte mais devido à vergonha inicial que ele possa ter, o aluno a cada conquista sempre será incentivado a mostrar o que aprendeu, para que ele tenha esse senso de recompensa e valorização tanto da minha parte quanto dos pais e responsáveis. Isso também é importante para que eles vejam a evolução gradativa do aluno. Esse acompanhamento é de suma importância para continuidade do trabalho de forma séria, confiável e saudável.

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