Muitas pessoas ainda acham que o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) é caracterizado pela inquietude, hiperatividade e impulsividade e que ela ocorre com todos que possuem esse transtorno, mas isso não é verdade. De 30% a 40% das crianças com TDAH não têm essas características, elas simplesmente são desatentas em excesso, ou seja, apresentam um déficit de atenção. Hoje temos dois tipos mais comuns de TDAH: o desatento e o combinado.
Desatento:
A criança é tímida, introvertida, quieta, não apresenta trabalho nem em casa nem na escola, introspectiva, não faz questionamentos e precisa muitas vezes de estímulos constantes para participar de atividades, inclusive na sala de aula. Devido à desatenção e ao frequente desinteresse e esquecimento, apresenta baixo rendimento na escola. Como não dá trabalho aos professores e pais, eventualmente não é encaminhada a tratamento.
Combinado:
Nesse panorama, o aluno apresenta tanto sinais de desatenção como de hiperatividade e impulsividade. Devido a isso, acaba sendo identificado mais cedo, muitas vezes na própria escola, e busca ajuda médica e multidisciplinar para entender por que não “para quieto” e não aprende com os próprios erros, mesmo quando chamado à atenção.
Nesses casos, a criança não tem paciência, não sabe aguardar a sua vez, quer tudo na mesma hora, e quando age assim tem grande probabilidade de evoluir para um quadro de Transtorno Opositivo Desafiador. Nos dois tipos de TDAH, essas crianças ou adultos precisam de ajuda.
Comorbidades
Os distúrbios do humor, depressão e ansiedade estão presentes em indivíduos com TDAH, além do Comportamento Opositivo Desafiador (TOD) nos casos mais pesados. Essa comorbidade, segundo alguns estudos, se desenvolve com mais força quando há relações maternas negativas, conflitos domésticos e maior estresse psicológico materno. O TOD também pode ser preditivo de Transtorno de Conduta (TC), uma condição mais séria e de consequências mais dramáticas.
A presença do Transtorno de Conduta piora o prognóstico do TDAH, aumentando a prevalência do uso de tabaco, álcool e o número de suspensões, expulsões escolares e até casos de delinquência. Tanto o TOD quanto o TC podem ser amenizados quando as relações com os pais são mais saudáveis e comunicativas.
A dislexia também é uma comorbidade bastante perceptível. Ela afeta diretamente o desempenho acadêmico e, em casos mais graves, pode levar a comorbidades fonológicas.
Os problemas motores também são designados como Distúrbio do Desenvolvimento da Coordenação (DDC). Atualmente, aceita-se a combinação entre TDAH e DDC como um evento comum, que pode afetar até 50% das crianças com TDAH. Para esses casos, aplicam-se testes para medir o DAMP (Déficits na Atenção, Controle Motor e Percepção). Embora em muitos casos a aparente falta de coordenação se deva mais à ansiedade do que propriamente a problemas de controle psicomotor.
Intervenção através da Bateria e Percussão no TDAH
Levando em conta que quem possui TDAH geralmente tem grandes problemas com regras, rotinas e sequências repetitivas – e a música tem como base esses três parâmetros –, pode-se pensar que essa não seria a melhor escolha. Mas, na verdade, tudo depende de como a pessoa com TDAH é ensinada.
A intervenção através da bateria e percussão no TDAH tem como primeiro ponto identificar quais fatores deixam o aluno mais irritado. Pela experiência, observa-se que a partitura musical pode ser um dos principais desafios, pois requer máxima atenção, algo que o aluno pode não conseguir oferecer.
Portanto, na maioria dos casos, trabalha-se a memória de curto prazo com sequências curtas de repetição. Para evitar fadiga mental inicial, esse mesmo padrão é executado de diferentes formas na bateria, promovendo o equilíbrio, a postura e a memória auditiva.
No aspecto auditivo, é importante tornar a aula mais dinâmica, inserindo músicas conforme o gosto do aluno. Assim, cria-se uma sensação de satisfação e prazer, e aos poucos são introduzidos padrões de contagem dos compassos enquanto ele toca.
O desenvolvimento de quem possui TDAH é mais voltado à estimulação do cérebro reptiliano, pois, na maioria dos casos, são indivíduos reacionários – ou seja, reagem a estímulos, mas não possuem uma pró-atividade em grupo tão desenvolvida.
Após estimular essas funções básicas do cérebro reptiliano e melhorar a capacidade de memorização do aluno, padrões maiores e/ou mais complexos são inseridos, mas sempre de forma separada. É um trabalho lento, cujos primeiros resultados começam a aparecer, em média, a partir do 6º mês de aula, conforme a gravidade do TDAH no aluno. No entanto, observa-se uma melhora notória na cognição, coordenação, capacidade de concentração, percepção de lateralidade e espacialidade do ambiente ao seu redor.