O autismo atualmente possui diferentes classificações para facilitar o diagnóstico, mas há muitas diferenças entre cada pessoa autista.
Algumas pessoas com TEA podem não desenvolver a fala, enquanto outras possuem dicção perfeita. Algumas têm dificuldades de aprendizado, enquanto outras aprendem sem qualquer atraso. Algumas podem desenvolver ou apresentar regressão do autismo a partir dos 2,5 anos de idade, enquanto outras nascem já dentro do espectro.
O autismo pode ser classificado em leve, moderado e severo, e a principal distinção entre esses níveis está na capacidade de comunicação social – seja ela verbal ou não verbal –, na intensidade das estereotipias, nas manias e repetições, e no nível de interesses restritos.
No caso de adultos autistas, a maioria possui aspecto leve ou moderado, e o diagnóstico geralmente é feito com base no histórico familiar. Muitos adultos autistas possuem grande capacidade intelectual em áreas específicas, mas podem ter dificuldades sociais, apego a regras, hiperfoco e tendência a rotinas rígidas.
O autismo também é quatro vezes mais comum em homens do que em mulheres.
No espectro autista, há uma grande diversidade de características – desde indivíduos altamente habilidosos até aqueles com severas dificuldades de comunicação e independência.
Síndrome de Asperger
A Síndrome de Asperger é considerada por muitos um grau mais leve de autismo. Indivíduos com Asperger podem apresentar:
- Dificuldade na leitura e interpretação de contextos sociais.
- Conflitos ao defender suas convicções.
- Maior independência e facilidade em conviver sozinhos.
- Tendência à organização ou desorganização extrema.
- Forte apego a rotinas, que proporcionam segurança e conforto.
A abordagem para a Síndrome de Asperger segue a mesma base de tratamento do autismo, com ênfase em socialização e estruturação de rotinas saudáveis.
Comorbidades
Muitas pessoas com TEA enfrentam dificuldades de relacionamento social, que podem causar frustração, ansiedade e depressão.
Além disso, há um aumento no risco de suicídio, fobias sociais e crises de pânico. Outras comorbidades comuns incluem:
- Problemas cardíacos e tireoidianos.
- TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade).
- TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo).
- Esquizofrenia e delírios.
- Dificuldade em expressar e receber demonstrações de afeto.
- Enxaquecas frequentes.
- Distúrbios do sono.
- Transtornos genéticos e sindrômicos.
- Paralisias cerebrais e atraso intelectual.
Em muitos casos, tratar primeiro as comorbidades pode ser essencial para melhorar a qualidade de vida da pessoa autista.
Intervenção através da Bateria no TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) abrange um conjunto amplo de disfunções e comorbidades. Por isso, o primeiro passo na intervenção musical é avaliar o grau do autismo e suas comorbidades.
O segundo ponto é compreender os limites de cada aluno. A abordagem dentro da bateria e percussão segue conceitos aplicados em terapias especializadas, como:
Terapia Parental
Consiste na orientação dos pais e familiares para desenvolver novas formas de lidar com o autismo, criando um ambiente mais estruturado e previsível. O objetivo é melhorar a comunicação e facilitar o entendimento do autista sobre suas ações e interações sociais.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Essa abordagem trabalha na reorganização dos pensamentos e emoções, ajudando o autista a:
- Interpretar melhor as situações ao seu redor.
- Desenvolver respostas emocionais mais equilibradas.
- Melhorar a interação social e a autonomia.
A bateria e percussão podem ser utilizadas como ferramentas terapêuticas para estimular esses processos.
Uso das Características do TEA a Favor da Aprendizagem
Certas características do TEA podem ser aproveitadas como vantagens durante o ensino da bateria, tais como:
- Facilidade com padrões repetitivos e rotinas.
- Hiperfoco em áreas de interesse.
- Sensibilidade auditiva e percepção sonora aguçada.
Inicialmente, é necessário avaliar a sensibilidade auditiva do aluno, estabelecendo um limite confortável de volume sonoro. Durante esse processo, o aluno aprende que ele tem controle sobre o volume da bateria, o que auxilia no desenvolvimento do autocontrole emocional.
O segundo passo é observar as barreiras psicomotoras, permitindo que o aluno explore livremente o instrumento. Esse momento inicial possibilita a identificação de quais músculos e estímulos cognitivos respondem primeiro.
Nos primeiros momentos de prática, podem ocorrer alterações de humor, pois o aluno está estimulando conexões entre o cérebro reptiliano (funções motoras básicas) e o processamento cognitivo e emocional. Em alguns casos, pode ser necessário o toque físico como intervenção, motivo pelo qual a presença dos pais é recomendada – especialmente quando o aluno possui dificuldades com contato físico.
Criação de Vínculos e Estratégias Pedagógicas
O sucesso do ensino da bateria para autistas depende da criação de vínculos e do respeito ao ritmo do aluno.
Após uma avaliação detalhada do aluno (anamnese), recomenda-se o envolvimento ativo da família no processo de aprendizado. Algumas estratégias incluem:
- Uso do reforço positivo, associando a música a atividades que o aluno já goste.
- Moldagem comportamental, recompensando avanços e comportamentos positivos.
- Técnicas de desvanecimento, reduzindo gradualmente a necessidade de instruções diretas para estimular a independência.
A bateria pode ser utilizada para estimular emoções mais deficitárias, ajudando o aluno a expressar sentimentos por meio da música.
A prática musical também ativa os neurônios-espelho, que são responsáveis pela imitação e aprendizado de padrões de comportamento. Essa estratégia, comum na Programação Neurolinguística (PNL), auxilia no desenvolvimento de respostas emocionais e sociais.
Para reforçar o aprendizado, são utilizados padrões matemáticos e sonoros repetitivos, incentivando o aluno a cantar ou contar os ritmos para facilitar o reconhecimento e a previsibilidade dos exercícios.
Integração com a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Uma vez estabelecida a comunicação com o aluno, o próximo passo é incentivá-lo a tomar decisões conjuntas durante as aulas.
É essencial que ele compreenda que o professor está ali para guiá-lo e ajudá-lo a enfrentar desafios, mas também que ele desenvolva autonomia e autoconfiança.
A cada exercício, são apresentadas duas opções, ambas levando ao mesmo objetivo final – o que permite ao aluno sentir-se no controle da experiência. Esse método fortalece a confiança no professor e melhora a percepção do aluno sobre sua própria evolução.
Conclusão
O ensino da bateria e percussão para pessoas com TEA deve ser realizado respeitando os limites e o ritmo individual de cada aluno.
É fundamental equilibrar desafios e conforto, permitindo que o aluno avance sem se sentir frustrado ou sobrecarregado.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia Parental desempenham um papel essencial no sucesso desse método, ajudando o aluno a desenvolver habilidades sociais, emocionais e cognitivas.
Com paciência, adaptação e estratégias bem planejadas, a bateria pode se tornar uma ferramenta poderosa para a melhoria da qualidade de vida e da autonomia dos alunos com autismo e Síndrome de Asperger.