A dislexia é um dos chamados transtornos de aprendizagem e é, de longe, o que mais afeta a população humana em comparação com os outros. Ocorre devido a uma falha nos circuitos cerebrais e conexões neuronais, podendo ser causada por um distúrbio genético ou adquirido nos primeiros anos de vida. Isso leva a uma insuficiência de ligações entre essas conexões e, consequentemente, das áreas do cérebro responsáveis pela leitura e escrita. Como resultado, a criança passa a ter dificuldades muito maiores para entender, memorizar, interpretar e raciocinar conteúdos vinculados à leitura e à escrita.
A dislexia não tem cura e não é considerada uma doença, mas precisa ser tratada com reabilitação fonológica e com atividades que compensem a falta de leitura, como o uso de técnicas de metacognição.
O diagnóstico geralmente é concluído na infância tardia, embora apresente sinais precoces desde os primeiros anos de vida, como:
- Histórico familiar de dislexia ou problemas de leitura.
- Problemas ao nascimento, como prematuridade, internação prolongada em UTI neonatal ou anóxia neonatal (ausência de oxigênio nas células do recém-nascido).
- Atraso na fala nos primeiros anos.
- Dificuldade em discernir desenhos com sentido gráfico, como letras e números.
- Esquecimento frequente para aprendizagem que envolve palavras, sons de letras e sequências de letras.
- Dificuldade para memorizar rimas, letras de canções, lendas e histórias.
- Pouca habilidade com sequências motoras, passando a impressão de descoordenação ou desorganização.
- Dificuldade com atividades espaciais, como quebra-cabeças, e percepção da sua localização no espaço.
- Dificuldade para lembrar nomes e pouco prazer em atividades de leitura e uso de materiais didáticos.
Comorbidades
A dislexia pode desencadear distúrbios psicológicos, como depressão grave (em alguns casos com risco de suicídio) e transtorno de ansiedade.
Intervenção através da Bateria na Dislexia
Na Intervenção através da Bateria na Dislexia, é essencial alinhar a comunicação do aluno. O fato de ele não assimilar determinado conteúdo está primariamente na forma como esse conteúdo chega até ele. A identificação do perfil cognitivo e emocional do aluno é fundamental para o aprendizado.
A partir disso, a metodologia de ensino une conhecimento nos três âmbitos cerebrais (Reptiliano, Límbico e Neocórtex) por meio de exercícios metacognitivos. Dessa forma, as informações gravadas no cérebro passam a ser transformadas em funções básicas, facilitando seu entendimento e retenção.
O primeiro passo é entender a amplitude das comorbidades e dificuldades trazidas por esse distúrbio. Avalia-se até onde o aluno consegue compreender a leitura musical. Para isso, são introduzidas figuras ilustrativas que representam a estrutura básica da música. Diferente do TDAH, a dificuldade com espacialidade e percepção corporal é menor para o disléxico. O maior desafio está em aliar o raciocínio lógico ao movimento.
Os exercícios trabalhados criam uma correlação com o cérebro reptiliano antes de formar a associação cognitiva. Assim, a informação é armazenada na memória de longo prazo e associada a funções básicas. Esse processo ocorre por meio da percepção do corpo, equilíbrio e respiração.
A dislexia requer um tratamento contínuo e precisa ser alinhada com as atividades em casa e na escola. Os resultados são lentos e dependem do grau de dislexia do aluno. Mudanças leves na forma de pensar já podem ser perceptíveis nos primeiros seis meses, enquanto resultados mais sólidos começam a aparecer após um ano e meio ou mais.
Hiperlexia
A princípio, quando uma criança aprende a ler e reconhecer o alfabeto antes dos 4 anos de idade, isso pode parecer impressionante. No entanto, a hiperlexia pode indicar um distúrbio, em vez de uma habilidade avançada.
Uma criança hiperléxica tem um reconhecimento mecânico das palavras. Ela identifica números e letras, consegue juntá-las para formar palavras, mas não compreende seu significado. Não consegue estabelecer relações que deem sentido às frases ou palavras. Além disso, crianças com hiperlexia frequentemente apresentam dificuldades de socialização e comprometimento da flexibilidade social.
Comorbidades
A hiperlexia geralmente está associada ao espectro autista, principalmente em casos mais leves e na Síndrome de Asperger.
Além disso, crianças hiperléxicas podem desenvolver depressão ou distimia, um tipo de depressão crônica mais leve que causa sentimentos contínuos de vazio e incômodo.
As limitações na linguagem receptiva e expressiva fazem com que elas se isolem do convívio social, preferindo atividades repetitivas e rotineiras.
Já na dislexia, a falta de concentração e dificuldades na escola podem levar à depressão ou ao Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), além de inibir a socialização do indivíduo.
Intervenção através da Bateria na Hiperlexia
Crianças hiperléxicas tendem a responder melhor a estímulos visuais e a lidar facilmente com atividades repetitivas. A metodologia utilizada se baseia nesses pontos para desenvolver sua capacidade auditiva.
Outro fator importante trabalhado é a dicção e fala, já que muitas crianças hiperléxicas apresentam atraso no desenvolvimento da linguagem.
Após identificar o grau da hiperlexia, são introduzidas imagens associadas a diferentes peças da bateria. Posteriormente, essas imagens são relacionadas ao som produzido por cada peça, incentivando a criança a reproduzir os sons com a voz. Esse processo auxilia no desenvolvimento da dicção e é reforçado por meio da repetição.
Com o tempo, conforme ganha confiança, a criança começa a desenvolver habilidades sociais dentro da sala de aula. Isso é estimulado com atividades de metacognição, promovendo um aprendizado mais orgânico e significativo.
O objetivo do Curso de Bateria e/ou Percussão para Pessoas Especiais e com Distúrbios é, acima de tudo, melhorar o convívio social da criança. O método busca ampliar seu conhecimento de maneira funcional e aplicável no dia a dia, evitando que o aprendizado seja apenas mecânico, como ocorre na hiperlexia e dislexia.